terça-feira, novembro 28, 2006

Entrevista com Emília Ferreiro


"As primeiras tentativas já não vistas como rabiscos, mas uma espécie de escrita"

"Alfabetizar é cada vez mais uma tarefa difícil"

Durante sua passagem por São Paulo, Emilia Ferreiro conversou durante uma hora com o editor Márcio Ferrari. Na entrevista, cujos principais trechos estão reproduzidos a seguir, ela avalia as mudanças ocorridas nas práticas de leitura e escrita desde que se tornou conhecida mundialmente.

Como se alterou a alfabetização nos quase 30 anos desde que foi publicado seu livro Psicogênese da Língua Escrita?

Emilia Ferrero: Uma mudança positiva é que já não se consideram as produções das crianças de 4 ou 5 anos como rabiscos, e sim como uma espécie de escrita. Também se reconhece a importância de ler em voz alta para elas desde muito cedo. Existem coisas que poderiam ter constituído avanço, mas foram muito mal compreendidas, como acreditar que os níveis de conceitualização da escrita pela criança mudam por si mesmos e que não é preciso ensinar.

As novas tecnologias trouxeram mudanças importantes?

Emilia: Sim, porque entram não somente na vida profissional mas também no cotidiano pessoal. Permitem ler e produzir textos e fazê-los circular de modo inédito. Hoje, ser alfabetizado é transitar com eficiência e sem temor numa intrincada trama de práticas sociais ligadas à escrita. Alfabetizar é cada vez mais um trabalho difícil. Em muitos casos, mudou opróprio modo de ler e escrever. O texto de e-mail, por exemplo, não tem regras definidas.

No Brasil, os adolescentes criaram todo um código para se comunicar pela internet.
Emilia: Isso acontece em toda parte. Pode ser um fenômeno passageiro, mas o certo é que os jovens estão fazendo com a escrita um jogo divertido. E para transgredir a escrita é preciso conhecê-la.

O uso de computador nas escolas tem sido adequado?

Emilia: É comum os professores não saberem muito bem o que fazer com ele. Por isso foi inventada a sala de informática, para usar num determinado horário. É uma maneira de não incluir o computador na atividade diária.

Muitas escolas têm computadores não conectados à internet. Costuma-se dizer que não servem para nada.


Emilia: Ao contrário, são muito úteis. A escola sempre trabalhou mal a revisão de texto e os alunos odiavam fazê-la porque num texto a mão é preciso voltar a escrever tudo. Com um processador de texto, a revisão se torna um jogo: experimenta-se suprimir ou deslocar trechos, com a possibilidade de desfazer tudo. Após as intervenções, temos na tela um texto limpo, pronto para ser impresso. A revisão é fundamental para que as crianças assumam a responsabilidade pela correção e clareza do que escrevem.


Colaboração das alunos Emanuela Vieira, Josiane Areias e Ivan de Figueiredo

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei os comentários de Emilia Ferreiro.Sempre que tenho contato com reportagens dela, procuro ler, pois acho seus estudos e dizeres sobre alfabetização de grande sabedoria.
Valeu ter visitado este blog.